Estamos no mês de Janeiro e é tradição entre a nossa Família Salesiana realçarmos a figura do Pai comum – D. Bosco, cuja festa litúrgica se celebra no dia 31 de Janeiro. A sua vida é tão rica e polifacetada, que não é difícil, para algum de nós, escolher um tema e o desenvolver num bonito artigo a propósito. Não vou por aí, mas enveredo por revelar dois aspectos da figura do nosso Pai que são para mim um misto de admiração e de interrogação. É admirável a expansão da Família Salesiana no mundo, não só pela quantidade dos seus membros, mas também pela variedade de ramos familiares que tem. O carisma de D. Bosco, na sua essência, dirige-se à salvação dos jovens feridos por tantas formas de pobreza, desde a material à existencial. No entanto, a existência de 31 ramos da Família Salesiana, reconhecidos pela Igreja e pela Congregação faz-nos pensar na variegada maneira de abordar e viver o nosso Carisma. Poderíamos pensar, então, que “todos os ramos da Família Salesiana vão dar à essência do nosso Carisma: a salvação da juventude pobre e abandonada? Creio que não erraríamos se pensássemos que sim, pois, se a Igreja e a Congregação os reconheceram, foi porque não saíam fora do Carisma Salesiano. É, portanto, motivo de grande alegria saber da criatividade salesiana de tantos dos seus filhos, que não se limitam ao mais óbvio e comum, mas exaltam a figura do Pai de tantas e tão diversificadas maneiras.
Ligada com o que acabámos de escrever está a forma democrática como D. Bosco abordou o objectivo salvífico do “Da Mihi animas”, almas para levar a Jesus, quantas mais pudesse, o mundo juvenil inteiro! A sua ambição apostólica consumiu-lhe a vida, gasta até mais não. A tarefa era colossal e tem consciência da sua pequenez, ainda que a graça de Deus e o auxílio de Maria Auxiliadora lhe dessem a certeza de que poderia fazer muito. Mas quem é humilde torna-se criativo e genial. Não há na história da Igreja a genialidade de uma Congregação que nasça com um pequeno grupo de jovens alunos, desafiados para dar seguimento à realização de um Carisma, como o fez D. Bosco. Jovens que aceitam com a totalidade da vida, alguns dos quais, poucos anos mais tarde, estão a sulcar os mares como missionários em terras longínquas. Mas o coração de D. Bosco faz-lhe dirigir os olhos também para tanta gente de boa vontade que o pode ajudar apostolicamente. As ajudas materiais chegavam conforme as necessidades; as ajudas apostólicas eram mais necessárias. E surgem homens e mulheres que se juntam a ele nessa tarefa apostólica: Cooperadores salesianos, empenhados Devotos de Maria Auxiliadora, Antigos Alunos, gratos por tanto amor que o Pai lhes tinha dispensado. Todos estes grupos a querer ficar vinculados à Obra de D. Bosco para a salvação da juventude.
À semelhança de alguém que se sente orgulhoso da sua família natural e lhe quer conhecer a sua história, assim quis fazer, por me sentir orgulhoso da Família Salesiana a que pertenço e da santidade e genialidade do Pai que a criou e lhe deu vida. Os dois aspectos focados sempre me deslumbraram e, na reflexão que tentei fazer, quis realçá-los. Diz-se, como slogan, que somos filhos de um Sonhador. Sem diminuir a grandeza dessa verdade, gosto mais de pensar que somos filhos de um Génio, de um Santo criativo e tenaz que, percebendo a Misericórdia de Deus, a quis distribuir pelos jovens, sobretudo os mais deserdados da vida. Fê-lo com o entusiasmo apostólico da sua alma e com a ajuda de tantos e tantos que ontem como hoje o queremos prolongar no meio dos jovens.
P. Joaquim Taveira da Fonseca