De repente descobri-me a pensar em Deus como o Grande Apostador. Interroguei-me para saber donde me terá surgido este conceito tão estranho, mas tão verdadeiro, em relação a uma definição do Indefinível, por natureza, como é Deus. Não foi difícil! A Misericórdia de Deus é a prova mais concludente de que Deus é o eterno e grande Apostador. A Criação não foi um acontecimento pontual dum faça-se único, mas sim uma aposta contínua do Amor eterno e infinito. A Incarnação de Deus em Jesus de Nazaré, esta maravilhosa resposta ao homem que, na sua fragilidade, miséria, pobreza e pecado grita na alma o desejo de ver o Seu Rosto é a Sua aposta por excelência na história da Criação. Deus humaniza-se em Jesus, porque na roleta da vida quer apostar Tudo o que é numa Infinita Misericórdia. A nossa Redenção levada a cabo por Jesus, outra coisa não é do que a aposta de Deus em cada um de nós. Deus aposta em nós! E perante esta sublime realidade somos convidados a acreditar, acolher e agradecer.
Percorrendo serenamente cada página do Evangelho, ficamos espantados, mas agradecidos, ao ver que a aposta de Jesus são os pobres, os pecadores, os deserdados da vida, os marginalizados. Todos aqueles em quem os grandes e poderosos deste mundo não apostam, porque inúteis e desprezíveis, são a grande aposta de Deus através de Seu Filho Jesus. Deus continua a jogar na roleta do Amor. E ganha sempre porque investe e manda a jogo a Sua Misericórdia.
Neste tempo de Quaresma, convidados a olhar com mais atenção aos pormenores do que somos, podemos encontrar a crueza da marginalização, o complexo de que nada valemos, a dor fina e cortante do desprezo, o esquecimento a que nos votou a nossa insignificância. Podemos encontrar também as feridas do pecado que não nos larga e a incapacidade da conversão que nos liberte. Podemos também não ter a compreensão de quem teima em julgar-nos sempre. Podemos ver mãos que se recusam a ajudar a levantar-nos. Podemos. Mas também podemos olhar para Jesus, que herdou do Pai o grande Vício de apostar em todos aqueles em quem mais ninguém aposta. N’Ele encontraremos consolação, respeito, acolhimento, ajuda; n’Ele aprenderemos a respeitar-nos e a respeitar e a perceber a Redenção como dignidade readquirida de sermos Filhos do Grande Apostador.
Pe. J. Taveira | Delegado Provincial FS