Poeiras douradas

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Chegam até nós poeiras
vindas de um norte mais a sul. 
Será que o deserto veio para ficar?

Está entre nós um ser invisível
que não é vivo,
nem quer morrer,
que nos rouba os abraços.
Será que a ausência de toque veio para ficar?

Existem guerras sem sentido,
em terras distantes,
e outras que se desencadeiam dentro de nós,
que nos obrigam a viver em trincheiras.
Será que a dor veio para ficar?

Há a Natureza a florir lá fora
e nós a vê-la apenas através da janela.
Será que ficaremos prisioneiros para sempre?

Existem as sombras da doença e da morte,
que nos cercam por todos os lados.
Será que o medo veio para ficar?

Mas, eis que chegam até nós os sons dos sinos 
da alegria, da paz, do amor:
CRISTO VIVE, ALELUIA!
Tudo ganha um novo brilho, uma outra poesia
(com final feliz).

Afinal as poeiras são douradas
e deixam-se beijar pelas ondas do mar.
Com toque na pele ou sem ele, acreditamos
que nada nos pode impedir de amar.
Ganhamos coragem para fazer as pazes
connosco mesmos, 
damos passos em direção aos outros,
sem receio de aprendermos a ser 
verdadeiramente livres.
Quando a Eterna Luz nos envolve,
desconfinamos a esperança,
as dúvidas se dissipam e é tempo de partir.

Vila Nova de Gaia, 2 de abril 2021
Graça Borges | Professora, Escritora e Salesiana Cooperadora do Porto