O meu tema de reflexão deste mês de Novembro é um preito de admiração, carinho e gratidão a esta mulher incomparável que é a mãe de S. João Bosco. O que dela se sabe foi muitas vezes adquirido por leituras apressadas, que não permitiram conhecer melhor a vida humana e espiritual desta espantosa mulher e mãe. No dia 25 de Novembro recordámo-la, como fazemos todos os anos. Desta vez, detive-me, pessoalmente, a contemplar a sua vida de mulher, de mãe, de educadora e de colaboradora na obra salvífica de seu filho, enviado de Jesus aos jovens mais necessitados. Contemplei-a nessas facetas com um carinho, também eu, de filho muito grato e feliz pelo Pai que me deu.
Margarida Ochiena é uma mulher predestinada, e como tal, acompanhada das graças de Deus para o desempenho dessa predestinação. Enviúva num primeiro matrimónio e fica com um filho desse casamento – o António. Volta a casar com Francisco Bosco do qual gera dois filhos – José e João. E volta a enviuvar, sendo estes filhos ainda muito pequenos. Assume sozinha o governo do lar e investe-se do papel de mãe e de pai da sua prole. Só o António, por ser mais idoso, a ajuda no amanho das poucas leiras de terra, donde tira o pão para as cinco bocas da casa. Prepara as roupas para os filhos, remendando-as tantas vezes, lavando-as para andarem limpos e asseados ou comprando algumas peças novas com as parcas economias de uma casa muito pobre. Ao dizer isto, pode parecer-nos estar a dizer o óbvio, o que sucede numa família normal. Mas não é bem assim. O lar de Margarida Ochiena é um lar pobre, sem as ajudas muito modernas de uma Segurança Social. Ali as únicas ajudas eram a graça de Deus que dava aos braços de uma mulher a força para trabalhar sem descanso e, ao seu coração, carradas de esperança para enfrentar as dificuldades. O filho mais velho ajudava, é verdade, mas também necessitava da ajuda dos cuidados da mãe.
Mas as suas energias não se canalizavam só para o sustento material dos filhos. A sua educação, a ajuda num crescimento humano e espiritual, a harmonia de uma convivência pacífica de três homens de temperamentos diferentes, acrescentavam-lhe um gasto considerável de energias. Onde ia aquela mulher buscar tanta força? O seu segredo estava no profundo e sincero amor a Deus e no procurar realizar a Sua santa vontade. Uma árvore boa dá bons frutos e aqui, mais uma vez, se cumpriu o ditado. O filho João, o sonhador dos sonhos de Deus, dá-lhe a maior alegria que lhe poderia dar: quer ser sacerdote para salvar os jovens. Esta alegria não esteve isenta do susto que aquela mãe pobre recebeu. Como poderia ser isso na escassez dos meios para que assim acontecesse? O caminho a percorrer será muito duro, porque carregado de obstáculos, mas a fé de Margarida e a vontade inquebrantável do filho João são muito fortes. A Providência torna-se mais visível em alguns momentos de desânimo, mas a meta foi alcançada. João é um sacerdote para os jovens mais necessitados. Agora começa um caminho por conta própria, também ele duro, porque crivado dos espinhos da incompreensão e da perseguição. Mas Margarida alimentou-o bem com a sua fé admirável em Jesus e com o seu amor a Maria Santíssima. Deu-lhe estes esteios que o ampararam, sobretudo em horas mais difíceis.
Os anos passaram e poderia agora Margarida descansar, uma vez que os outros dois filhos já se tinham arrumado na vida? Deus ia pedir-lhe um último e enorme ato de amor a que ela respondeu generosamente. O seu P. João estava sozinho num trabalho ingente e avassalador. Já tinha tido um grande aviso de esgotamento que só foi reversível por milagre. Além disso, os inúmeros rapazes do Oratório necessitavam da presença de uma mãe. Ele precisava da sua Mãe, da sua orientadora, dos seus carinhos e da sua solicitude. Baixa a Chieri para lhe fazer o pedido de que venha ajudá-lo. Margarida reúne todas as forças qua ainda lhe restam e o seu sim é humilde e generoso. Educou o filho João no amor a Deus e a Nossa Senhora e agora iria ajudar a educar aqueles filhos que o seu filho adotou. Durante anos iluminou Valdocco com a sua solicitude, carinho e paciência; durante anos olhou pelo seu P. João a quem deu forças tantas vezes. Também conheceu os negros caminhos de algum desânimo, mas a imagem d’Aquele que, por amor, ainda permanece de braços abertos numa cruz foi suficiente para recomeçar no serviço generoso que sempre a impeliu.
Quando Deus tem uma missão muito importante a confiar a alguém, prepara, com muito carinho, uma mãe para colocar a seu lado. Assim sucedeu com S. João Bosco. A seu lado, em momentos muito importantes da sua vida, colocou Margarida Ochiena, a sua e a nossa querida Mãe Margarida.
P. Joaquim Taveira da Fonseca | DNFS