Não raras vezes nos acontece que, querendo usar algum eletrodoméstico “decretamos” que está velho ou estragado pelo facto de não funcionar quando o queremos usar. A pressa e a falta de observação levam-nos, facilmente, a esta conclusão: “lá tenho de gastar mais dinheiro num novo”. Resignados ou a barafustar connosco, pomos de lado o utensílio. Mais calmos, momentos depois, observamos melhor e verificamos que a avaria não existe, pois, simplesmente, nos esquecemos de ligar o utensílio à corrente elétrica. Assim ele não pode funcionar!
Distrações destas temo-las também, e com maior gravidade, na nossa vida espiritual de todos os dias. Quantas vezes andamos infelizes, tristes, acabrunhados mesmo, não encontrando sentido para a vida; quantas vezes nos damos conta de que não funcionamos, de que as coisas nos saem mal e embirramos connosco e com os outros num mau humor que ninguém tolera; quantas vezes nos sentimos vazios, ocos por dentro, numa insatisfação amarga. E poderíamos ter evitado tudo e cada uma destas coisas negativas se “nos ligássemos à corrente”. Sim, exatamente! A nossa vida recebemo-la da Vida, de Deus que, não só é a Vida que justifica a nossa existência, mas também a Vida que a alimenta. Entre Deus e cada ser vivente há um fluxo constante de vida que justifica a sua existência, Entre Deus e cada um de nós o fluxo da Vida é uma realidade que justifica a nossa plena realização espiritual e felicidade consequente. Mas para que assim seja não podemos desligar-nos espiritualmente da corrente da Vida que é Deus. Se conscientes, ou mesmo distraídos, estamos desligados de Deus, nada na nossa vida funciona bem. Não temos em nós auto geradores de vida, que nos levem a pensar na solução da autossuficiência. É Deus que continua a gerar a vida plena em nós. E sem Ele, esquecido ou rejeitado, a nossa vida agita-se, dá a sensação aparente de que funciona, mas perde-se no peso doloroso dos dias cinzentos e frustrantes.
A presença de Deus na vida das suas criaturas não é para os Seus filhos o luxo de alguns, mas a realidade essencial que condiciona aquela felicidade para a qual todos vivemos. Deus criou-nos para a felicidade e deu-nos a vida para a alcançar, auxiliados pela Sua misericórdia, que jamais nos abandona. Só que tantas vezes desligamos a nossa “ficha vital” da tomada do Seu amor misericordioso e procuramos outras soluções que não nos levam a nenhuma parte. E andamos à deriva! É necessário, então, ligar-nos, de novo, à Corrente do Amor para recebermos o fluxo da Vida e da consequente felicidade que dela advém. Temos o direito de ser felizes, porque filhos de Deus. Pela humildade, reconheçamos a nossa distração de estarmos desligados; pela Oração liguemo-nos ao Coração de Deus, donde vem a Vida, a Luz e a Força que nos tornam felizes e nos levam a conhecer o sentido verdadeiro dessa Felicidade.
P. Joaquim Taveira da Fonseca
DNFS