Alguém me lançou estes três desafios já há dois meses:
1 | “Como desempenhar o compromisso apostólico de SSCC e/ou ADMA em tempo de distanciamento social?
2 | A vivência religiosa começa numa adesão pessoal e expressa-se sobretudo em comunidade. Como é que a COVID-19 afetou estas duas vertentes?
3 | A suspensão da eucaristia pública, atravessou o mais importante e sensível tempo litúrgico – a Quaresma, a Semana Santa e a Páscoa. E se, depois da Quaresma e da Páscoa, vier uma provação semelhante no Advento e Natal?
Logo nessa altura comecei a responder deste modo:
“Estamos a viver um tempo tão especial que precisamos de repensar todas as coisas. Aqui na Chainça, quando nos vimos confinados em casa, era o dia 13 de março, ainda rezámos o Terço com o grupo da Associação de Maria Auxiliadora, mas já nos interrogámos: “E agora, como vamos fazer? É perigoso estarmos perto uns dos outros. Podemos ser portadores desse maldito vírus que não pode vir de Deus, mas o certo é que teremos que conviver com ele, ao menos durante algum tempo. Assim Deus permita que chegue o dia em que seja controlado, como o foram outros no passado. Então combinámos estar unidos como Associação rezando o Terço todos os dias às 18.30h acompanhando o Santuário de Fátima pela TV, Internet ou Rádio.
Então, e que relação pode existir entre nós? O telefone vai ser mais fundamental do que nunca, particularmente para quem ainda não domina as novas tecnologias e redes sociais. Passados poucos dias, chegou a pergunta: “Irmã, temos aqui a Capelinha a circular de casa em casa. Vamos continuar a fazê-la circular?” – Claro que não! Vamos encontrar outra forma. E assim, na Chainça, 35 membros ADMA e 4 simpatizantes ficaram ligados com a iniciativa: “Um por todos, com Maria Auxiliadora”. Foram precisos ainda bastantes dias para contactar com as 39 pessoas! Havia mais que fazer! Mas conseguimos. Cada vez que ligo para a pessoa que está a rezar naquele dia diz: “Irmã, não estou esquecida! O meu postal de Maria Auxiliadora está em tal lugar e todo o dia a vou invocando pela minha família, pelos ADMA e por toda a humanidade” e o diálogo estende-se e conclui-se sempre com “Muito obrigada, Irmã. Muito obrigada por ter telefonado.” Ainda não consegui organizar com todos uma segunda iniciativa que consiste em formar pequenos grupos com vários membros do ADMA que se telefonem entre si para irem partilhando a vida e apoiando-se.
Entretanto surgiu a iniciativa da pastoral juvenil diocesana de Portalegre-Castelo Branco “Adota um avô!” e cerca de 20 dos membros da ADMA aceitaram o desafio e estão agradecidos. Recebem telefonema de um/a jovem com a frequência possível e vão dando o seu testemunho de fé ao jovem, enquanto o/a jovem lhes vai fazendo companhia pois é esse o objectivo primeiro da iniciativa. Isto mesmo é possível entre todos os nossos grupos da Família Salesiana, particularmente sendo os mais jovens os protagonistas destas iniciativas.
A resposta ao 2.º e 3.º desafios exigiu-me uma pesquisa que os compromissos da Catequese pela net e outros só agora me permitiram realizar.
Efetivamente a maior parte dos cristãos ficaram sem a Comunhão Eucarística nestes tempos e muitos ainda se estão a privar dela, quer por prevenção face à perigosidade deste vírus, quer porque a fé não é assim tão forte que os faça sair de casa e ir, ao menos, à vez, às Eucaristias que já estão a ser presenciais, embora com números clausus nas Igrejas. A nossa ainda nunca encheu, desde o dia 30 de maio e só comporta 140 lugares.
A privação da Comunhão Eucarística é uma boa provação para a profundidade e veracidade do nosso encontro pessoal com Jesus, porém esta experiência não é nova na história. No lugar da Comunhão Eucarística podemos viver a Comunhão espiritual que vivida em profundidade realiza em nós o mesmo que a presença eucarística de Jesus. A história do Japão e da Coreia conta vários santos e milhões de cristãos que viveram a sua fé sem o ministério sacerdotal durante quase 250 anos. Os pais baptizavam os filhos e transmitiam-lhes a fé pela vida. Foi em 1858 que o Japão finalmente readmitiu missionários cristãos, que encontraram 10.000 cristãos escondidos e desejosos da Eucaristia. Na Coreia entre 1784 e 1836 a Igreja Católica foi dirigida inteiramente por leigos. Eram 4.000 católicos, dos quais apenas um tinha conhecido um padre. Muitos episódios há que atestam a força da fé assente no Batismo e alimentada na Eucaristia vivida apenas mentalmente: Victoire Rasoamanarivo (1848-1894) escreveu: “Coloco diante de mim os missionários que rezam a missa e mentalmente participamos de todas as missas que estão sendo celebradas no mundo.” (Cfr. https://pt.aleteia.org/2020/03/18/santos-que-tiveram-de-viver-sem-a-eucaristia/)
O 3.º desafio: “A suspensão da eucaristia pública, atravessou o mais importante e sensível tempo litúrgico – a Quaresma, a Semana Santa e a Páscoa. E se, depois da Quaresma e da Páscoa, vier uma provação semelhante no Advento e Natal?” creio que está respondido e que já se vêem sinais de retoma da vida, sempre no respeito pela vida uns dos outros.
Muitas outras reflexões nos proporciona este tempo de Pandemia da COVID-19 .
Boas Férias valorizando a vida de família e da fé vivida em profundidade.
Ir. Mª Fernanda Afonso | Delegada Nacional da Família Salesiana