Naquela tarde do dia da Sua Ressurreição, Jesus apareceu aos apóstolos fechados no medo, dentro de uma casa, embrulhados na dor de não terem tido a coragem de acompanhar o seu Senhor nas horas dolorosas da Sua paixão. Reunia-os apenas um fraco sentimento de esperança de que o terceiro dia lhes trouxesse o cumprimento da promessa de Jesus de que Ele ressuscitaria. Horas difíceis as daqueles dois dias, vividas na angústia da incerteza do cumprimento de uma promessa. Mas esperaram! O que, no fim daquela manhã, lhes tinham dito a Madalena e outras mulheres sobre terem visto Jesus Ressuscitado, atiçou um pouco a luz da esperança, mas não lhes trouxe a luz plena. De repente, as portas escancararam-se e o Ressuscitado está no meio deles: «A Paz esteja convosco» – saudou-os. Ficaram atónitos com a presença de Jesus e com a simplicidade da saudação, mas acreditaram. Na semana seguinte, em cenário idêntico, Tomé, o ausente da tarde do primeiro dia, desafiador na sua incredulidade, vai ajoelhar e dizer ao seu Jesus amigo e misericordioso: «Meu Senhor e meu Deus».
Ao recordar estes episódios de tanto amor e misericórdia da parte de Jesus e dos apóstolos, recordei, simultaneamente, a nossa querida Família Salesiana também ela tantas vezes encerrada na casa de portas fechadas do seu medo apostólico, da sensação da sua pequenez e inutilidade perante um mundo que é preciso transformar. Os apóstolos ocupavam, certamente, o seu tempo nessas horas de temerosa espera, na oração e nas lamentações da incerteza quanto ao seu futuro. O mundo tinha parado para eles e a vida fora daquelas portas fechadas era hostil. Também a Família Salesiana se refugia na oração temerosa, rotineira, cheia de incertezas, sem expectativas de futuro. Mas Jesus aparece a dizer-lhe: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai me enviou também eu vos envio a vós. Ide por todo o mundo e anunciai a Boa Nova». As portas abrem-se, o medo desaparece e a Vida apossa-se de todos e cada um dos membros desta Família Salesiana, portadora da Boa Notícia de Jesus Ressuscitado, disposta a transformar o mundo à sua volta com o fogo do amor no coração.
A oração é a força motriz da vida do apóstolo salesiano que quer levar aos demais a chama do seu carisma a todos os seus irmãos. Viver do binómio oração e acção apostólica é o específico da Família Salesiana. Os apóstolos só o foram verdadeiramente depois de abrirem as portas do seu medo e se lançarem, pela força do Espírito de Jesus, ao anúncio da Sua Ressureição. Ser da Família Salesiana não é apenas um título, mas uma Vida de apóstolo, com a força de Jesus e a alegria de que Ele está vivo no coração de cada um.
P. Joaquim Taveira da Fonseca | DNFS