Ao pensar na Família Salesiana, essa mole imensa de cristãos que empunham na vida a bandeira do carisma salesiano, não resisti a partilhar este belo Códice anónimo do século II-III, descoberto no século XV e que expressa a vida dos primeiros cristãos. É um documento extraordinário que convido a ler mais do que uma vez, para que possa ser também o retrato futuro da Família que formamos.
“Os cristãos não se distinguem das outras pessoas, nem pelo lugar onde vivem, nem pela sua maneira de falar, nem pelos seus costumes. Com efeito, não têm cidades próprias, nem utilizam uma linguagem insólita, nem levam um género de vida diferente.
Vivem em cidades onde lhes coube viver, seguem os costumes dos demais habitantes do país, seja no vestir, como em todo o seu estilo de vida e, no entanto, dão mostras de um teor de vida admirável e, a juízo de todos, incrível. Habitam na sua própria pátria, mas como forasteiros; participam em tudo como cidadãos, mas suportam tudo como estrangeiros; toda a terra estranha é uma pátria para eles, mas estão em toda a pátria como em terra estranha. Igual a todos, casam-se e têm filhos, mas não se desfazem dos filhos que concebem. Têm mesa em comum, mas não o leito.
Vivem na carne, mas não segundo a carne. Vivem na terra, mas a sua cidadania está no céu. Obedecem às leis estabelecidas e com o seu modo de viver superam essas leis. Amam a todos e por todos são perseguidos. Condenam-nos sem os conhecerem. Dão-lhes a morte e, com isso, recebem a vida. São pobres e enriquecem a muitos; têm necessidade de tudo e abundam em tudo. Sofrem a desonra, mas isso serve-lhes de glória; sofrem detrimento na sua fama, mas isso testemunha a sua justiça. São amaldiçoados e abençoam; são tratados com ignomínia e eles, pelo contrário, pagam com honra. Fazem o bem e são castigados como malfeitores; e, ao ser condenados à morte, alegram-se como se lhes dessem a vida. Os judeus combatem-nos como a estranhos e os pagãos perseguem-nos e, no entanto, aqueles mesmos que lhes fazem mal não sabem explicar o motivo por que o fazem”.
O viver das primeiras comunidades é para todos um exemplo de vida segundo os ensinamentos de Jesus que continuava Vivo entre eles. Quando queremos água pura, nada melhor do que ir à nascente. A água pura da santidade a que estamos chamados encontra-se na Nascente da nossa fé que é Jesus. O autor deste texto anónimo apresenta o que eram os primeiros cristãos para nossa admiração e exemplo a seguir.
A Família Salesiana é chamada também à vida de santidade vivida no quotidiano. Não é um bom membro da Família Salesiana quem descura esta obrigação do seu baptismo: ser santo! Temos na nossa família – a Igreja – inúmeros exemplos de santidade acessível a todos. Que esta Carta a Diogneto nos orgulhe pelos nossos irmãos dos primeiros tempos do cristianismo e nos entusiasme e seguir-lhes o exemplo.
P. Joaquim Taveira da Fonseca | DNFS