O Presente | SDB

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Há dias, falando com uma pessoa amiga que manifestava um mundo de infelicidades da sua vida, disse-lhe que andava um pouco distraído para não reparar também num mundo de presentes que Deus lhe oferecia continuamente. Ficou atónita, pensando, certamente, que eu estava a brincar com o sofrimento dela, não dando atenção às suas lamentações. Percebi que seria difícil fazê-la acreditar na veracidade do que lhe ia dizer, mas Deus veio em meu auxílio e pôs na minha boca as palavras certas.

Comecei por lhe explicar o significado da palavra presente que, tantas vezes, pensamos tratar-se só de uma dádiva material de alguma coisa de que gostamos e desejamos. Há, ocasiões mais propícias a receber esses presentes, pois não é todos os dias e a todos os momentos que os recebemos. Via-a acompanhar o meu raciocínio, interrogando-se, talvez, até onde ele a poderia levar. Continuei a dizer-lhe que a palavra presente tem também um significado temporal, pois falamos de passado, presente e futuro. Ora, o uso da palavra presente para significar oferta material, ou até espiritual, e para significar o ínfimo espaço temporal da vida, passa-nos, muitas vezes, despercebido na semelhança do seu significado. Abordei, então, uma explicação: os presentes materiais vêm-nos, de vez em quando, da generosidade das pessoas; por outro lado, este presente temporal é uma contínua e ininterrupta oferta de Deus. É a nossa vida! Cada momento, cada átimo de tempo, é um presente que Deus coloca, amorosamente, nas nossas mãos com inenarrável carinho de Pai. O que nos acontece é não repararmos nesse gesto divino e, por isso, o ignoramos.

A nossa vida atinge, por vezes, velocidades incríveis, pressas exageradas, preocupações asfixiantes. E, quando damos conta, reparamos que deixámos a alma em qualquer lado, alma que não acompanhou o nosso ritmo frenético e confuso de vida e, por isso, ficou para trás. As nossas infelicidades derivam de andarmos sem alma, gastando o tempo à sua procura. Vivamos, então, cada momento, presente de Deus, com serenidade agradecida pelo dom que nos é oferecido. Centremos a vida no essencial, sem nos deixarmos perder pelo que é acidental e periférico. Abramos as mãos em atitude de quem recebe e de quem dá. Nelas nos cairá o constante presente de Deus e delas sairá esse presente como oferta fraterna no serviço ao outro. Quando começarmos a perceber que a vida é esse maravilhoso presente de Deus para a aprendizagem do amor, dar-nos-emos conta de que cada momento é presente para viver com a solenidade que nos exige a santidade a que todos somos chamados.

 P. Joaquim Taveira da Fonseca