No cumprimento da Vontade do Pai, Jesus leva ao extremo a manifestação do Seu amor por todos os seus irmãos, morrendo na ignomínia da Cruz por todos e cada um de nós. Não poderia dar-nos um sinal maior da Sua misericórdia infinita. A morte na Cruz foi o culminar do amor de toda a Sua vida, desde o Seu nascimento, na pobreza e no escondimento, passando pelo silêncio da vida em Nazaré e pelo anúncio do novo Reino, pela Palavra e pelos milagres, no meio de grandes contradições e sofrimentos, que culminaram com a morte na Cruz.
Poderemos dizer que Maria, a Mãe por desígnio e convite de Deus, acompanhou o seu Filho neste caminhar da Redenção logo nos primeiros momentos em que Jesus é apresentado no Templo. Simeão profetiza o Filho de Maria como sinal de contradição e todas as dores inerentes à mesma. A alma de Maria estremece de dor com essa espada que lhe atravessa o seu coração de Mãe. Como um espinho impossível de ser arrancado, essa profecia acompanha-A até à Cruz do Filho e é, com essa espada de dor, que Ela está ali junto à Cruz a contemplar o cumprimento de tudo o que lhe foi dito por Simeão.
Jesus agoniza entre dores inimagináveis. O pouco sangue que d’Ele escorre pelas inúmeras feridas abertas, fazem aumentar ainda mais o sofrimento. Maria apenas consegue vê-lo por entre a cortina das lágrimas que enchem os seus olhos de Mãe. Também para Ela tudo está consumado, como dirá o Seu Filho numa plena aceitação da Vontade do Pai. Mas nem para Jesus, nem para Maria chegou o momento da consumação total. O amor ainda pode ir mais além na doação de ambos. E, quando se poderia esperar ouvir apenas os últimos gemidos, quase silenciosos da dor de Maria e o arfar da morte no peito do moribundo, eis que Jesus levanta um pouco a cabeça e vê, pela última vez, com os olhos daquele corpo quase a desaparecer, o rosto dolorido, mas sempre bonito, da Mãe que tanto amou e ama, da Mãe que O ajudou a crescer e tanto Lhe ensinou, da Mãe que O teve sempre no seu coração materno na presença ou nas ausências. “Minha Mãe é Aquela que sempre fez a santa Vontade de Meu Pai”. De tamanho Tesouro não se poderia desapegar nesses últimos instantes da Sua vida mortal sem O deixar como herança àqueles por quem estava prestes a dar a vida no mais profundo amor. Reúne as últimas forças e chama-A: “Mulher, eis aí o teu Filho”. E olhando também para o Seu fiel amigo João, diz: “ Filho eis aí a tua Mãe”.
Não era apenas uma entrega de amparo. Maria tinha vivido até ali sem o amparo presencial de Jesus, entregue à Sua vida pública na criação do Reino. Por isso, não entregava a Mãe a João, porque, presencialmente, já não ia poder cuidar d’Ela. A Sua entrega a João era dizer-lhe que, na sua pessoa, A fazia Mãe de toda a humanidade. Por outro lado, dando à Mãe a pessoa de João como filho, queria fazer d’Ela a Mãe de todos e cada um de nós. Porque se a Sua Morte era o máximo de amor que nos dava, a Mãe era aquele acréscimo especial de amor que iria selar e testemunhar a grandeza do amor manifestado na Sua oblação total por nós. Maria iria, de alguma maneira, garantir que a morte de Jesus não era um consumar da obra da Redenção humana, mas um amparar com o seu amor de Mãe aqueles que iriam continuar essa Redenção no tempo novo que a Ressurreição de Jesus faria nascer.
“Mulher, eis aí o teu filho” é a garantia de que o Calvário era a porta aberta desse mundo novo formado por todos os que Jesus, com a Sua ressurreição, convidava também para essa vida nova. Os redimidos necessitavam de uma Mãe que os orientasse e protegesse com a sua presença, como tinha feito ao próprio Jesus na Casa de Nazaré. Transformada agora em Igreja, Comunidade de crentes, os redimidos seriam os construtores de um Tempo Novo.
“Mulher, eis aí o teu filho”. A oferta de Jesus é um verdadeiro testamento que Maria acolhe com responsabilidade. Por isso, a vamos ver depois com esses filhos todos, nascidos da Páscoa, alegres na fé, perseguidos por causa dessa fé, mas amparados pelo seu carinho materno. E no Pentecostes, atraído por Ela e sobre a sua “nova família” reunida, desce Aquele mesmo Espirito Santo, seu Esposo Divino que, no seu ventre, gerou Jesus, seu Filho e seu Deus.
“Mulher, eis aí o teu filho”. No seu coração de Mãe não há desistência desta responsabilidade assumida junto à Cruz. Continua a amparar a Igreja hoje como ontem, mesmo que, muitas vezes esta mesma Igreja se esqueça que Jesus também disse a João: “Filho eis aí a tua Mãe” e que João a tomou consigo e A acolheu em sua casa. É o que nos falta fazer: acolhê-lA, e coloca-la na nossa vida com amor e carinho de filhos. Responsavelmente!
P. J. Taveira da Fonseca