Neste mês dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, somos convidados a descobrir os infinitos tesouros da Sua Misericórdia. Descobri-los como resposta às necessidades da nossa pobreza e da pobreza dos nossos irmãos, pois todo o tesouro encontrado é para partilhar, porque só na partilha ele se torna riqueza.
O livro de Job chama-nos justamente à atenção para a vida do homem sobre esta nossa terra, dizendo-nos que é a “vida de um soldado”, combatendo, ou sempre disposto a combater, nas batalhas de todos os dias. As rotinas diárias desta luta tendem a diminuir a dor do sofrimento, calejando a alma, ou levando-nos a um conformismo que nada resolve e mais complica. Acontece, no entanto que, de vez em quando a alma acorda com a dor muito aguda de um fracasso, de uma doença que se descobre em nós, de um objectivo perseguido e que não conseguimos alcançar, com o desaparecimento de um ente muito querido, duma situação dolorosa que se arrasta e não lhe vemos a solução… E surge a revolta interior, a inutilidade de se acreditar num Deus, que apelidamos de injusto, pois permite estas coisas e a tentação de O colocar de lado, porque já não tem utilidade. Não vem ao nosso encontro, quando precisamos d’Ele e não faz a nossa vontade quando Lhe imploramos ajuda. Rezamos-Lhe, fazemos-Lhe promessas, tantas vezes difíceis e dolorosamente quase impossíveis de cumprir e parece-nos que os nossos males não desaparecem e a nossa vontade não se realiza. E tudo isto porque este deus, a quem nos dirigimos, não existe e ocupa o lugar, na nossa mente e no nosso coração, do Deus verdadeiro, revelado por Jesus de Nazaré como Amor, como Deus de Misericórdia. O verdadeiro Deus de Jesus é puro amor, graça total que, precisamente, vem até junto de nós, encarnando justamente em Jesus de Nazaré, Filho de Maria e que nos revela a essência do Deus que devemos aceitar e n’Ele acreditar. Então, se a essência de Deus é o amor, Deus não pode não amar-nos, porque, então, negar-se-ia a Si mesmo ao negar a Sua essência. Este amor de Deus é um Amor de Misericórdia, isto é, um amor que, tendo em conta todos e cada um de nós, privilegia os mais pobres, os miseráveis. Assim, a justiça de Deus mostra a sua diferença da justiça dos homens.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus convida-nos à adoração do nosso Deus que é Misericórdia, um Amor sempre à procura de todos e cada um de nós para se doar, para curar as nossas chagas do corpo ou da alma, um Amor que não faz acepção de pessoas, mas quer que Lhe abramos o coração, Lho mostremos como Ele nos mostra o Seu, cheio de bálsamo divino para curar as feridas feitas pelo pecado, fraquezas e misérias da nossa vida. O Seu amor misericordioso não quer outra coisa que não seja o nosso bem. A Sua Vontade, que nós tantas vezes não compreendemos e não deixamos realizar na nossa vida, é a manifestação do Seu amor misericordioso em nós.
A devoção ao Sagrado Coração de Jesus é o melhor ensinamento que podemos receber sobre o que é ser também misericordioso. Este é o grande convite, já traduzido por Jesus na bem aventurança: “ Bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” que nos é feito para vivermos uma vida cristã coerente como cristãos, como membros de uma Igreja, como membros da Família Salesiana, como filhos e filhas de D. Bosco e do seu carisma. A afirmação dos misericordiosos como bem aventurados, como nos diz Jesus, é uma concretização do amor ao próximo, também daquele próximo que D. Bosco tanto procurou ao ir ao encontro dos jovens pobres, sem ninguém, abandonados pelo desamor de tantos, vítimas do egoísmo e da indiferença de uma Sociedade que os esquece e os marginaliza. A devoção ao Sagrado Coração de Jesus não pode ser apenas um sentimento piedoso, mas uma fonte de conhecimentos sobre a misericórdia de Deus para connosco e, por nós, para com os nossos irmãos. Revela-nos que Jesus não teve vergonha dos Seus discípulos, Ele foi um irmão para com todos os seres humanos e carregou com o seu pecado e a sua desonra até à morte na Cruz. É esta a Misericórdia de Jesus, que é o Modelo a partir do qual queremos viver todos aqueles que O amamos verdadeiramente e verdadeiramente O queremos imitar. Como membros da Família Salesiana sabemos como fazer: basta-nos olhar para D. Bosco; basta-nos ter a coragem de viver o seu carisma.
P. Joaquim Taveira da Fonseca
DNFS