Só há diálogo se houver Amor
Se olharmos bem para os ambientes que nos rodeiam, verificamos que as pessoas estamos cada vez mais sozinhas, a contas com os nossos problemas, ou simplesmente ignoradas. Refugiamo-nos nos nossos interesses, nos nossos divertimentos, ou também nos nossos medos e desilusões. Serve-nos à maravilha o telemóvel para dar uma pequena ideia desse isolamento. Quem não observou já na chamada vida de uma família em que jovens e adultos se isolam, de telemóvel na mão, horas seguidas, ignorando o mundo que os rodeia? Quem não observou já pessoas que vivem no mesmo andar do mesmo prédio e que não se conhecem, por isso não se falam e são como que desconhecidas umas das outras mesmo até nas reuniões de condomínio? Não é necessário multiplicar os exemplos de um fechamento sobre nós próprios, de um “egoísmo” crescente, também devido à agressividade do mundo que nos rodeia.
Este preâmbulo, necessariamente pequeno e sintético, vai conduzir-nos à chamada de atenção para a necessidade de diálogo entre as pessoas e, no que diz respeito à finalidade destas palavras, ao diálogo que mais de perto nos toca: na família e na Igreja. É uma despretensiosa chamada de atenção, procurando dar sequência ao que o Papa Francisco nos recomenda para a Igreja à qual pertencemos: caminharmos em Sinodalidade. Isto significa que, sendo nós, a Igreja de Jesus, um Povo em caminho, um Povo peregrino na fé, esse peregrinar só tem sentido se o fizermos unidos, num diálogo fraterno, porque o Coração misericordioso de Deus, o Pai comum de todos nós, é a nossa Meta. Esta foi sempre a exigência da Igreja, mas hoje, certamente mais do que nunca, essa exigência tornou-se mais urgente. As pedras vivas em que nos tornámos com o nosso Batismo têm que se justapor para reconstruir uma Igreja Una e Apostólica. O cimento que lhe pode dar solidez é a graça do diálogo fraterno que deriva do Amor dum Deus de Misericórdia como é o nosso Deus.
Como Família Salesiana, somo filhos devotados da Igreja de Jesus. Empenhamo-nos ainda mais por razões do carisma de um santo que tinha pela Igreja um filial e especial carinho – S. João Bosco. Temos uma tarefa grande e empenhada dentro desta nossa Igreja: trabalhar com amor na reconstrução da sua unidade, em diálogo fraterno entre todos.
Dialogar não é apenas trocar palavras entre pessoas. Há muitas formas de dialogar em que as palavras até podem estar a mais. Dialogar pode ser estar próximo por opção e amor; também pode ser o manifestar real interesse e participar na vida dos demais para os ajudar. Dialogar pode ser escutar com atenção e respeitar as ideias e os pareceres do outro e, se for o caso, expor também, com humildade, as nossas ideias e pareceres. Dialogar é, sobretudo, olhar para o outro como irmão e amá-lo como me devo amar também a mim próprio. Dialogar… Tantas maneiras de o fazer e todas elas a necessitar sempre do fermento imprescindível do Amor. Sem ele, as nossas relações são frias e vazias.
O diálogo tem de ser treinado no dia a dia: quer na família, quer nos ambientes de trabalho, quer nos Centros onde nos reunimos, quer na Igreja onde expressamos a nossa fé e a testemunhamos também diante dos demais. Nesta Quaresma que estamos chamados a viver, com empenho renovado, treinemos o diálogo uns com os outros, caminhado juntos pelo amor fraterno até à Páscoa de Jesus, a nossa Páscoa!
Pe. Joaquim Taveira
Delegado Nacional da Família Salesiana