Ao chegar a este tempo de Natal parece-me que as notícias tristes ainda são mais tristes. Imagino que neste tempo não deveria haver tristeza, nem desconforto, nem mesmo frio e chuva. Porque é tempo de festa pela vinda de Jesus. E, na realidade, as pessoas tentam esconder a tristeza da alma e entregar-se a um pouco de solidariedade, de amor ao próximo através da partilha, da presença em casa de familiares pouco lembrados, na recordação de amigos a quem ligamos para lhes dizer que ainda o continuam a ser. Cria-se um tempo diferente, procura-se aquecer o coração e avivar amizades. E tudo em nome de uma tradição natalícia e, para muitos também, em nome da alegria de agradecer a um Deus que desceu até à nossa Terra e assumiu a nossa humanidade frágil e necessitada, fazendo-se Companheiro e Resposta às nossas dores e sofrimentos. Incomparável é este milagre de Amor e Humildade do nosso Deus.
E volto depois à realidade deste nosso mundo que não parou na sua caminhada, onde se foram encontrando a dor e a alegria nas vicissitudes de todos os dias. O tempo é de poucas abertas em dias seguidos de chuva e frio. Os noticiários dizem-me os alertas de cores perigosas e as ameaças de frio intenso levam-me já a outras paragens onde causa mortes e impede deslocações, paralisando a vida. Também chegará à nossa porta. Prometo-me tomar previdências para o tornar menos incómodo. O frio! E, de repente, encontro-me a pensar no frio que mata mais impiedosamente do que o frio meteorológico. É o frio da indiferença, do abandono, da solidão. É o frio das relações acabadas, gerado por egoísmos de almas geladas pela ganância. É o frio do desprezo pela pessoa a quem são negados amor e afeto, atenções e carinho. É o frio de quem humilha e persegue para exercer estúpidas vinganças. É todo esse frio que mata mais do que o frio natural das temperaturas mais baixas.
“Um Menino nos nasceu e um Filho nos foi dado” em Jesus, Vida e Calor para a nossa vida. Pensei, então em convidar-vos a aquecer o mundo em que vivemos para que todos tenham vida e vida em abundância, porque foi para isso que Ele nasceu. Ponhamos, na fogueira das nossas relações, como membros da Família Salesiana, a lenha do nosso afeto pelos mais desprotegidos, pelos que estão sozinhos e vivem com muita dor a sua solidão, pelos que foram marginalizados e até humilhados pelos que se julgam donos de tudo; ponhamos, na fogueira das nossas relações, a lenha da nossa solicitude pelos mais fracos, pelos mais carentes de atenção, pelos menos dotados e mais complexados, pelos mais necessitados e envergonhados. Aqueçamos, com o fogo que arde no nosso coração, este mundo em que vivemos, campo da nossa ação apostólica, possibilidade de expansão do mais bonito carisma que nos é dado viver, o carisma salesiano, onde a solicitude e o amor aos que sofrem mais o frio, possam aquecer-lhes o coração. Como fez D. Bosco.
Pe. Joaquim Taveira da Fonseca
DNFS