“Estava no mundo e o mundo foi feito por Ele, e o mundo não O reconheceu. Veio para o que era seu, mas os seus não O receberam.” (Jo 1, 10-11)
Ainda hoje isto acontece. E não é só àqueles que apelidamos de não-crentes ou de não-praticantes, também nós crentes, muitas vezes nos consideramos daqueles que acolheram o Senhor, mas agimos como todos os outros. E, porquê?
Estamos talvez mais preocupados com a salvação dos não-crentes e dos não-praticantes do que com a nossa salvação. Como é isso possível?
Então, vejamos. Porque vais à Eucaristia? Só para dar bom exemplo? Certamente por outras razões mais profundas, mas o certo é que facilmente manifestas não compreender a não frequência da Eucaristia, por exemplo dos que frequentam a catequese ou uma escola católica e seus pais. E ficas magicando: “Que estratégia nova precisamos de usar para conseguir que entendam o valor da Eucaristia”?
O que será que o Senhor Jesus nos pede nesta circunstância? Que consigamos motivar as pessoas à frequência da Eucaristia ou que deixemos a Ele essa preocupação e a nós que façamos aquilo que Ele nos pede: “Fazei isto em memória de Mim!” (Lc 22, 19)?
Dizia um pároco há alguns anos para alguns animadores que acompanhavam crianças e pré-adolescentes durante a Missa: “Dai-lhes indicações antes da Missa sobre o modo de participar, mas durante a ação litúrgica preocupem-se em primeiro lugar por viver a Missa e não em controlar as crianças”.
Dito de outro modo: Se alguém com quem dialogámos sobre a Eucaristia passou a frequentá-la, consideramo-nos autores dessa mudança ou atribuímos a Deus a glória que lhe pertence e simplesmente agradecemos a Deus a graça que concedeu a esse irmão? Assim escreveu S. Paulo aos Coríntios:
“Não cesso de agradecer a Deus por vós, pela graça divina que vos foi dada em Jesus Cristo.” (1 Cor 10, 4)
E mais adiante escreveu: “… nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus. É por sua graça que estais em Jesus Cristo, que, da parte de Deus, se tornou para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção, para que, como está escrito: quem se gloria, glorie-se no Senhor (Jr 9,23).” (1 Cor 10,29-31)
O próprio Jesus nos diz no Evangelho de S. João: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em Mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.” (Jo 15,5).
Ou seja, precisamos de confiar mais na ação de Deus em nós e nos outros, fazendo da nossa parte tudo o que percebemos que Deus nos pede como se tudo dependesse de nós, mas com plena consciência de que o mais importante depende de Deus. Como diz S. Paulo: “Eu plantei, Apolo regou, mas só Deus é que dá o crescimento!” (1 Cor 3, 6)
Efetivamente só Deus dá eficácia às nossas ações e, perante os acontecimentos reconhecemo-nos “apenas seus servos”, (Lc 17, 10)” fizemos só a nossa parte.
Façamos tudo o que percebemos que Deus nos pede na certeza que é ele que dá a fecundidade, mas quer precisar da nossa humilde parte para que Ele nasça em todos os corações na hora que Ele considerar a melhor…
Fui abrir alguns dos documentos dos grupos da Família Salesiana, mas não tendo acesso aos de todos os grupos existentes em Portugal, fui à Carta que a todos envolve, a Carta de Identidade Carismática da Família Salesiana e encontrei no Capítulo terceiro: “Movidos pela fé, esperança e caridade, os membros da Família Salesiana participam na ação de Deus que atua sempre para comunicar a cada pessoa o seu amor misericordioso e sentem-se profundamente inseridos na comunhão e no apostolado da Igreja.” (CICFS, art 22)
É sobre esta participação que tenho andado a refletir e dou-me conta que preciso de valorizar mais a resposta que outras pessoas já dão ao amor de Deus e preciso de cuidar prioritariamente a minha correspondência e participação neste amor misericordioso de Deus que O levou a ser um de nós, mais do que a tentar estratégias para que os outros cresçam na fé. E, em todas as circunstâncias dar glória a Deus, pois é o Seu Espírito que “realiza tudo em todos” (1 Cor 12,6).
E termino, invocando a plenitude dos dons de Deus, para ti, meu irmão ou irmã, que estás a ler esta reflexão. Que este Natal 2022 não seja mais um, mas deixe marca na nossa vida, para a glória de Deus.
Um Santo Natal e um ano 2023 vivido para a glória de Deus Pai, Filho e Espírito Santo, seguindo as pegadas de Maria, Mãe de Jesus, nossa Mãe e Auxiliadora.
Ir. M.ª Fernanda Rosa Afonso
Delegada Provincial para a FS