FMA | “Com o coração do bom samaritano num mundo ferido”

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“Com o coração do bom samaritano num mundo ferido”
Resumo da mensagem da Madre Ivonne Reungoat

É desejo da nossa Superiora Geral, manifesto na circular 1010 que partilhemos com a Comunidade Educativa (Cf. Const. FMA, 68; Reg. FMA, 59) a carta que nos escreve para o dia 24 de cada mês. Em Junho teve este sugestivo título: “Com o coração do bom samaritano num mundo ferido”.

No mês de junho, começou por recordar o apelo do Papa Francisco à unidade: «como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada um com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada um com a própria voz, mas todos irmãos!» (Fratelli tutti, 8). E afirma, de seguida: «Foi dito que a realidade é tecida de um sonho, a unidade, apenas devemos ter a coragem de o libertar. Este é um tempo favorável para o realizarmos juntas, não podemos esperar para “depois”, poderia ser tarde!»

Convida-nos, portanto, a voltar à citada encíclica para encontrar nela razões fortes “para construir com as jovens e os jovens, e para eles, espaços onde sejam protagonistas e artífices de uma fraternidade universal, espelho do projeto de Deus que sonha para nós uma humanidade fraterna e solidária”. 

Desenvolve esta ideia em 3 tópicos: “ Solidários com amor universal”; “Uma solidariedade aberta ao mundo” e  “Fazer brilhar a solidariedade na missão educativa”.  

1 | Solidários com amor universal

Madre Ivonne Reungoat, após a contextualização da Enciclica Fratelli Tutti expressa a sua gratidão e admiração “pela clareza e arguta capacidade de ler os sinais dos tempos à luz do Evangelho” que o Papa Francisco nela manifesta. Diz que a figura do Bom Samaritano, apresentada no segundo capítulo é a chave de leitura de toda a encíclica. É parábola que continua a interpelar o homem e a mulher de todos os tempos. Um samaritano é aquele que põe de lado os seus planos, os seus desejos e interesses, não só para se abeirar, mas para se fazer próximo de quem está em necessidade. E isto, muitas vezes, sem sair da própria casa ou ambiente de trabalho. Quantas “feridas físicas, morais e espirituais que pedem para serem curadas com o mesmo coração do bom samaritano!” E afirma: “Como a nossa vida está ligada à dos outros, ora no papel de samaritanos ora no do homem ferido!” E sublinha a afirmação do Papa: “Se quisermos sair desta crise da Covid-19 menos egoístas do que entrámos, precisamos de nos deixar tocar pela dor dos outros”, isto é, substituir o princípio do individualismo pela força da ternura e da solidariedade, ainda que não seja uma tarefa fácil, mas juntos podemos ajudar-nos a amadurecer uma dimensão universal do amor aberta a todos, superando preconceitos, barreiras históricas ou culturais e decidir abraçar, com coragem, quem é “ferido”, com um coração solidário e dar vida a tempos mais humanos, à medida da pessoa criada à imagem de Deus. Em seguida apresenta a vivência da filiação divina como condição única favorável à fraternidade que permite uma convivência cívica duradoura. (Fratelli tutti, 272). E termina ajudando a fazer um exame de consciência: estou disposto/a pessoalmente e em comunidade a “ajoelhar” para tocar e curar as feridas alheias e a carregar aos ombros aqueles que sofrem? A coragem necessária só nos vem de Jesus que confia no melhor de cada um/a. (cf. FT n.º 71). 

2 | Uma solidariedade aberta ao mundo 

Faz entender que ser bom samaritano não é coisa de sacristia. É uma mentalidade aberta a novas relações na política, no diálogo entre religiões e culturas e entre os povos; uma nova modalidade de relacionamento mais solidário e evangélico com quem vive ao nosso lado e de estar, não só perto, mas fazer-se seu próximo, mesmo que  isso possa ser “cansativo e incerto, um caminhar na esperança para realizar juntos um sonho que se chama fraternidade e que constrói a amizade social de que o mundo, hoje, tanto precisa. 

Neste aspeto, a Madre dá notícia sobre o encontro entre Superiores e Superioras gerais, precisamente sobre a encíclica Fratelli tutti que a levou a entender que a resposta ao nosso carisma está desenvolvida naquela máxima: “Pensar e gerar um mundo aberto”. Amizade social e fraternidade não se excluem, mas incluem. É bom entrar nesta perspetiva com coragem e iniciativa apostólica, caminhar juntos para construir comunidades atentas no cuidado de quem está “caído”, ferido e necessitado de compaixão. Refere concretamente que, em alguns momentos da nossa vida, devemos ser também samaritanas/os de nós mesmas/os; olhar com misericórdia para os nossos limites, abraçar com ternura as nossas fragilidades e, com amor, saber aliviar-nos, levantar-nos e recomeçar. Precisamos de ser benévolas connosco mesmas/os, para sermos também com aqueles que encontrarmos no caminho de Jericó. A parábola do bom samaritano tem ainda muito mais para nos propor a esse respeito! 

A Madre faz uma retrospetiva dos rostos que encontrou nas suas viagens para dizer que há muitas que talvez, sem o saberem, vão realizando já um novo sonho de fraternidade que não se limita às palavras, mas que sabe valorizar o contributo de cada um na sua diversidade e variedade. Ao chegar a este ponto, a Madre afirma que a solidariedade, assim entendida, pode traduzir-se por espírito de família, valor essencial do carisma salesiano, que atravessa as nossas Constituições como luz sempre nova que ilumina o quotidiano sob todos os aspetos. Luz esta que exige uma contínua conversão ao amor. “A responsabilidade de cada pessoa é grande e insubstituível”. Não posso esperar que as outras, os outros, se tornem irmãos e irmãs. Sou eu a primeira a decidir ser irmã de quem vive ao meu lado ou que encontro no caminho, fazendo-o experimentar a alegria do acolhimento, o respeito pela diversidade, o encontro vivido na gratuidade. 

3 | Fazer brilhar a solidariedade na missão educativa  

Nos nossos pátios, nas salas de aula, nos ambientes informais, nas redes sociais, nas ruas movimentadas, nas periferias em risco, nas várias formas de agregação podemos encontrar jovens sem esperança, mas com muita vontade de viver. A nossa missão educativa é uma âncora de salvação para eles e para o futuro da humanidade. O tempo da pandemia provou duramente os jovens e o seu grito de ajuda, muitas vezes não expresso, leva-nos a unir-nos em plena sinergia com aqueles que se preocupam do bem das crianças, dos jovens e das famílias. Mediante opções educativas partilhadas, podemos construir uma fraternidade que abrace toda a família humana, segundo o projeto de Deus. É o caminho a percorrer para estar prontas hoje, como o Bom Samaritano, a sarar as feridas que muitas vezes desfiguram a vida das novas gerações. Uma ferida muito grave, mas tratável, tem por nome pobreza educativa. 
Seguidamente agradece a todas as comunidades educativas que, incansavelmente, põem em ação a sua capacidade criativa para elaborar e oferecer todas/os processos educativos adequados às várias e concretas situações existentes nos diferentes contextos socioculturais. São percursos que permitem aos jovens reerguer-se, defender-se de forma pacífica de injustiças e discriminações, voltar a sonhar com esperança um futuro melhor. Também naqueles que têm fome de um amor autêntico, de felicidade plena e duradoura. É nesta realidade que devemos apostar na educação. Sentir-nos samaritanos com o fogo do da mihi animas no nosso coração, prontos para ser co-criadores de um novo futuro. Refere o Pacto educativo global anunciado pelo Santo Padre na mensagem de 12 de setembro de 2019. Como sabemos, por situações contingentes, o evento foi vivido com modalidades e tempos diferentes. 

É necessário recuperar o ambiente da aldeia global, antes de tudo com a oração, como muitas vezes exorta o Papa Francisco nas suas intervenções ao mundo inteiro, e com a implementação de processos educativos partilhados, em constante evolução, como requerem as situações. 

É um esforço que fazemos e, por vezes, nos faz desanimar. Não deixemos de semear! Este é o tempo da sementeira, a outros a colheita da vindima! Gostaria de recordar alguns aspetos importantes, “pilares” da educação, necessários para construir, a aldeia da educação, hoje: recomeçar a partir da pessoa, tendo a coragem de a colocar no centro como resposta à mudança antropológica atual em que todos estamos conectados e, assim, interpretar a economia, a política, o desenvolvimento e o progresso. Para isto a necessidade de pessoas disponíveis com a indispensável formação. Que cada pessoa, sobretudo os jovens, coloquem ao serviço da comunidade com competência e dedicação suas potencialidades, desenvolvidas ao máximo e as expresse com liberdade e responsabilidade. Tudo isto requer generosidade e coragem (cf. Francisco, Discurso aos participantes à Conferência sobre Education: the global compact). 

A Madre termina a sua mensagem, apontando para Maria, como nosso modelo: “Não estamos sós neste caminho. Há uma Mãe, Maria, que aos pés da cruz recebeu a maternidade universal (cf. Jo 19,26) e «com a força do Ressuscitado quer dar à luz um mundo novo onde todos somos irmãos, onde há lugar para todos os marginalizados das nossas sociedades, onde resplandecem a justiça e a paz» (n.º 278)”. 

Agradece todo o acolhimento que encontrou nestes treze anos do seu serviço à frente do Instituto e conclui, dizendo: “Faço minhas as palavras do Papa Francisco aos jovens e que considero adequadas também para vós: «Que o Espírito Santo vos empurre para a frente nesta corrida. A Igreja precisa do vosso entusiasmo, das vossas intuições, da vossa fé» (Christus vivit, 299). E acrescentou: “O Instituto confia em todas vós e em cada uma em particular. Precisa de vós para dar fecundidade e nova visibilidade ao carisma, dom na Igreja, às jovens e aos jovens de todo o mundo. Quanto desejo que cada uma se sinta Instituto, pérola preciosa e única, escolhida pelo Senhor para alegria de muitas e de muitos jovens! “

Para Circular completa:
https://www.cgfmanet.org/ifma/carisma-salesiano/con-il-cuore-del-buon-samaritano-in-un-mondo-ferito-circolare-n-1010/

Saudações a todos e umas boas férias!

Ir. Mª Fernanda Afonso
Delegada Provincial FMA para a FS