Vivemos imersos num tempo novo, fruto da Páscoa de Jesus. A alegria pascal não pode ser uma alegria passageira, superficial e circunscrita a um tempo concreto, mas perene, profunda, que impregne a nossa vida de cristãos e perpasse por todos os momentos da nossa história. Em Jesus ressuscitado adquirimos uma vida nova para ser vivida em profundidade cristã, aproximando-nos da radicalidade do Amor de Jesus, à maneira de D. Bosco, nosso Pai e Mestre. Também ele nos convida a viver as bem-aventuranças como caminho de santidade. Mas, se há uma bem-aventurança que mais ressalta na vida e obra de D. Bosco e perfuma o seu Carisma, é a da Misericórdia: “Bem-aventurados os misericordiosos …”
Não resisti à tentação de transcrever um pequeno texto de Dietrich Bonhoeffer, que pode ser um retrato quase perfeito da radicalidade de vivência séria do Carisma salesiano que nos envia aos jovens pobres, aos marginalizados deste mundo e a todos os nossos irmãos que encontrarmos nos caminhos que percorrermos diariamente na nossa vida. O Lema do Reitor Mor, para este ano, justifica também uma atenção especial a este texto e nos convida a ser os misericordiosos de que aqui se fala. Como D. Bosco:
“ Estes desempossados, estes estrangeiros, estes carentes de poder, estes pecadores, estes seguidores de Jesus vivem agora com Ele inclusivamente na renúncia à sua própria dignidade, pois são misericordiosos. Como se não lhes bastasse a sua aflição, a sua própria carência, fazem-se participantes da aflição dos outros, da baixeza dos outros, da culpa dos outros. Sentem um amor irresistível pelos pequenos, os enfermos, os desditosos, os excluídos, os humilhados, pelas vítimas da violência, pelos que sofrem e são excluídos injustamente, por todos aqueles que se angustiam e sofrem; e procuram aqueles que incorrem em pecado e culpa. Nenhuma aflição é demasiado profunda. Nenhum pecado demasiado terrível para que ali se faça presente a misericórdia. As pessoas misericordiosas oferecem a sua própria honra aos que são desonrados e carregam a desonra deles. Colocam-se ao lado dos publicanos e dos pecadores e assumem de bom grado a ignomínia de frequentar a sua companhia, Sacrificam o maior bem do ser humano, a dignidade e a honra pessoais, e são misericordiosas. Só conhecem uma dignidade e uma honra: a misericórdia do seu Senhor, o único a partir do qual vivem. Ele não teve vergonha dos seus discípulos, foi um irmão para os seres humanos, carregou com a sua desonra até à morte na cruz. Tal é a misericórdia de Jesus, o único a partir do qual querem viver os que a Ele estão vinculados, a misericórdia do Crucificado”.
Que semelhança tão grande com a vida e Obra do nosso Pai e dos membros da Família Salesiana que aceitaram e aceitam esta radicalidade! Aqui temos um campo vasto, onde o amor de cada membro da Família Salesiana e todos em conjunto podem, na radicalidade do Amor, “fazer novas todas as coisas”.
P. Joaquim Taveira da Fonseca
Delegado Nac. da Família Salesiana