A caminhada do Advento já nos aproxima tanto do Natal que nos permite vislumbrar o Presépio de Jesus, esse incomparável lugar de humildade que Deus escolheu para o nascimento do Seu Filho. O relato evangélico não poupa pormenores, nem embeleza o que é um lugar que abriga animais durante a noite. Não havia mais lugar algum, entre os habitantes de Belém, para acolher uma senhora grávida e já nos últimos instantes de gravidez. A compaixão também não cabia nos corações dos atarefados hospedeiros, empenhados em servir os que podiam pagar mais para alcançar um lugar na hospedaria.
Não foi apenas o egoísmo dos homens a remeter Maria e José para um lugar inimaginável para aí nascer uma criança. Um estábulo?!. Deus quis que assim fosse, porque a Sua entrada no mundo, pela Incarnação de Seu Filho, tinha de ser através da maior das humildades. A Criança que ia nascer, o Jesus que iria calcorrear os caminhos da Palestina seria o mais humilde de todos os Seus irmãos. “… o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. O fulgor da Sua palavra, o poder divino dos Seus milagres, aparecem apenas para a construção do Reino de Deus neste mundo, para a manifestação palpável do Amor misericordioso do Pai que veio revelar.
O descrição evangélica do nascimento de Jesus suscita em Francisco de Assis o desejo de o tornar visível para contemplação da bondade e da humildade divinas. E da infinita ternura de Deus para connosco! Hoje não há Natal sem a representação plástica do nascimento de Jesus por um presépio. Fazem-se nas igrejas, nas famílias, nas escolas, nas ruas… São assim chamadas de atenção para o essencial do Natal: um Deus que desce ao nosso mundo, na humildade, na pobreza e na fragilidade de uma Criança que se oferece para vir ao encontro dos corações daqueles que se abrem a este divino gesto de amor.
Há alguns dias, numa turma de alunos do 6.º ano, perguntei a alguns qual o personagem do presépio, que tinham à sua frente, que gostariam de ser (incarnar). As respostas foram, naturalmente, privilegiar a figura de Jesus, de Maria e de José. No entanto, do fundo da sala, uma mãozita levantada pede a palavra. “ Eu gostaria de ser como o burrinho ou a vaquinha”. Risos dos colegas. Pedi a razão e a aluna, timidamente, explicou que eles eram muito importantes, porque aqueciam aquele lugar frio. E, para espanto meu, acrescentou: “ O presépio ensina-nos a amar os outros, Jesus veio para nos amar. Eu queria amar os outros ajudando-os também quando têm frio”. Fez-se silêncio. Para aquela menina, o Presépio de Jesus mostrava-lhe a possibilidade de, humildemente, poder ajudar os outros. E não foi assim que Deus apareceu no meio de nós no Seu Natal de Belém?
Joaquim Taveira da Fonseca | DNFS