Estava só…
No Evangelho de S. Mateus, Jesus resume a cinco itens a prática de uma vida de amor merecedora do prémio final da Sua misericórdia. E, postos à nossa consideração, é já uma prova do Seu grande amor avisar-nos que na Sua vinda seremos examinados exclusivamente por esses itens. Um a um, todos eles visam o amor ao próximo, pobre e esquecido, numa coerência de Deus que motivou a Incarnação do Seu Filho. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os prisioneiros, para publicar o ano da graça do Senhor” (Lc 4, 18-19).
O capítulo 25 do Evangelho de S. Mateus é muito claro: o nosso exame final vai ser sobre o próximo, nosso irmão, e sobre a maneira como olhámos para ele. Irmão com fome e com sede, de roupas andrajosas, encarcerado e doente é o objectivo único da nossa atenção e amor. E como é bom e edificante conhecer irmãos nossos que empenham a vida nesse objectivo que lhes é apresentado por Jesus.
Neste tempo tão incerto e muito limitativo da nossa acção pastoral, os membros da Família Salesiana são convidados à criatividade para exercer o amor fraterno com os seus irmãos mais necessitados. Mais do que nunca, é necessário que nós, membros da Família Salesiana, respondamos bem aos itens do teste final. A fome, a sede, a nudez da miséria, a solidão e a doença, marginalizam Jesus ao marginalizar tantos e tantos irmãos. Sentimo-nos incapazes de O amar como queríamos. Vemo-nos incapazes nas circunstâncias dolorosamente limitativas que vivemos. Mas há sempre alguma coisa que podemos fazer e que vamos fazendo também…
Gostaria de chamar a atenção para a solidão, essa fome de presenças e de afectos, essa sede de comunicar e de ouvir uma palavra de alguém, esse vazio que nos mata a alma e nos leva à perda do sentido da vida, esse encarceramento da nossa pessoa num silêncio escuro… “Estava só e foste visitar-Me”. E quando é que te fizemos isso, Senhor? Todas as vezes que saíste de casa, quando podias fazê-lo, e passaste comigo algum tempo com disponibilidade e carregado de carinho; quando, mesmo confinado, pegaste no teu telefone e me ligaste. Foi tão bom ouvir o som desse telefone e a tua maravilhosa voz e perguntar como estava e se necessitava de alguma coisa. E depois ainda me contaste coisas bonitas e me disseste que não estava esquecido e que telefonarias muitas mais vezes, pois também te fazia bem comunicar.
“Estava só e foste visitar-me” e já não me senti tão só! Vi que eu era importante para ti e para todos os que me visitaram, ou ligaram e ainda me acendeste a luz da esperança, porque “tudo vai passar” e também passará todo este mal de que sofremos.
Quantas coisas inventa o amor! Procuremo-lo como o essencial da nossa vida. Teremos de deixar de lado tantas coisas supérfluas para nos dedicarmos a amar mais… porque, um dia, seremos julgados, apenas e só, pelo Amor. Esta é a Palavra de Jesus.
P. Joaquim Taveira da Fonseca | DNFS