Aproximamo-nos com grande rapidez do fim de mais um ano e os que temos a tentação de olhar para trás, para o tempo percorrido, os caminhos andados e as coisas que se fizeram, lastimamos, talvez, que muito mais se poderia ter feito, que os passos dados poder-nos iam ter levado por outros caminhos melhores e que o tempo não foi suficientemente aproveitado. Esta é, certamente, a parte pessimista da nossa avaliação de vida. É bom que avaliemos, mas duma forma mais realista e de acordo com as nossas possibilidades pessoais e circunstanciais. Sem angústia, com humildade e esperança. Desejamos um novo ano melhor e vamos fazer que assim seja. Contamos com a graça de Deus que nunca falha e contamos connosco, com a sabedoria que advém de querermos fazer a santa vontade de Deus que é fonte de vida e alegria. Vamos, então fazer mais? Vamos, então, fazer melhor? Vamos, então, viver em mais plenitude? Sim, tudo isso é possível e desejável e está ao nosso alcance.
S. João XXIII, o Papa por quem sempre tive um imenso carinho, tinha como lema de vida e oração diária: “ Hoje, só hoje, Senhor”. Homem sábio e santo encontrou neste lema, feito oração, o segredo para fazer muito, fazer bem, santificar-se. Sabia que a agitação, a ansiedade, a operosidade num trabalho, tantas vezes sem sentido, esvaziam-nos, empobrecem-nos e tornam-nos doentes. “ Hoje, só hoje, Senhor”! Este pedido humilde traduz o imenso desejo de fazer a vontade de Deus, centrando-nos num momento presente que valorizamos e que nos valoriza também. Que temos nós em cada momento senão esse preciso momento que Deus nos concede? Então, aproveitemo-lo com solenidade para fazer aquilo que se nos pede exactamente nele. Essa é a vontade de Deus de que tantas vezes nos perguntamos como a poderemos encontrar. Não é nos grandes momentos da vida, nas obediências difíceis, nos acontecimentos vistosos que se encontra mais facilmente a vontade de Deus. Ela está nas coisas pequeninas, humildes e despercebidas; ela está em todos os momentos que fazem o cumprimento de uma vida.
Mas alguém poderia justamente perguntar: mas, então, não temos que planificar os actos a fazer, pensar à distância, projectar? Claro que temos e devemos. No entanto, não podemos ficar pendurados num futuro que não temos, inquietos pelas dificuldades que, possivelmente iremos encontrar, angustiar-nos pela incerteza do êxito do que planeamos. O momento de planificar, pensar à distância e projectar é um momento solene, por isso devemos fazê-lo bem; o momento de fazer o que foi planeado, pensado à distância e projectado terá o seu tempo próprio e nele será vivido também com solenidade.
“ Hoje, só hoje, Senhor”! Podemos fazê-la nossa oração também, traduzindo-a numa vida que quer ser também humildemente sábia e feliz.
P. J. Taveira da Fonseca