A Carta de Identidade Carismática da Família Salesiana, no Capítulo Primeiro sobre a Família Salesiana na Igreja, tem o artigo 8 assim intitulado: “O precioso contributo da mulher”. Nele encontramos resposta a estas perguntas:
1 – Quais foram as mulheres mais significativas, escolhidas por Deus, para colaborar na elaboração do Sistema Preventivo e no nascimento de novos grupos para a Família Salesiana? Descubra estas siglas: MM, MDM, VDB, GCFS
2 – Qual o clima de interação entre os grupos já existentes e os nascentes, subjacente a esta criatividade do Espírito Santo? COMUNHÃO
3 – Qual o Papa que mais contribuiu para dar à mulher o valor que lhe é devido na Igreja e no mundo atual? (JPII)
4 – Mas porquê relevar a mulher? Não, não é porque tem direitos que lhe estão a ser negados. Isto acontece, em muitos contextos, tanto a homens com a mulheres. Há que, isso sim, dar a cada pessoa, seja ela qual for, o valor que tem de acordo com a imagem de Deus que traz em si, seja mulher ou homem. Mas, por vezes, há atitudes que não manifestam este espírito de comunhão.
Porque me lembrei deste assunto? Acontece que a nossa Censelheira Geral para a Família Salesiana, a Ir. Maria Luisa Miranda, juntamente com as suas colaboradoras, durante os seis anos após o Capítulo Geral de 2014, tomou a peito revitalizar a Dimensão Mariana da Espíritualidade Salesiana, na vida das FMA, mediante pequenos textos que, em cada dia 24 são propostos para a reflexão pessoal e/ou comunitária.
No mês passado fomos visitar o Cântico dos cânticos da Biblia para encontrar aí referências que têm a sua realização última e perfeita em Maria. Neste mês o texto a meditar era do Livro de Ester no Antigo Testamento (Est 4,9-5,5).
Aqui em Abrantes gostámos de o levar ao grupo da Associação de Maria Auxiliadora e foi valorizado. Nesse texto aparece efetivamente uma missão de salvação do povo que Deus confia a Ester, através dos acontecimentos e através da sua fé, episódio este que foi vivido por Ester de uma forma que muita mensagem pode ter para todos nós, mulheres ou homens.
Ali, Deus assim quis, foi preciso o encanto de uma mulher para obter do rei a salvação dos judeus, mas esta seria uma leitura muito leviana do texto. De facto, o que acontece antes de Ester ir ter com o Rei – três dias de jejum e oração ao Deus de Israel vividos em comunhão, no povo, – são o caminho seguro para obter de Deus a graça desejada: “Que o rei escute Ester!” e desista do extermínio dos judeus.
O texto de meditação faz-nos pensar: Como em Ester, também em nós:
– A nossa é uma vocação “para os outros” (Est. 4,9-14), pois não é por acaso que Ester se tornou rainha, mas um privilégio que lhe foi dado em favor do seu povo! E eu, na história da minha vocação, seja ela qual for, que privilégios recebi de Deus em favor dos irmãos e irmãs?
– Qualquer vocação “requer sacrifício” (Est 4,15-17): Ester escuta o grito do seu povo e prepara-se para dar a vida. E eu estou pronto/a a dar a vida pela salvação dos irmãos e irmãs?
– Há um chamamento a viver a própria vocação como uma “profecia de esperança” (Est 5,1-5): a fé de Ester alcança de Deus a graça e faz da sua pessoa uma profecia de esperança. Sei reconhecer e cultivar, na minha vida, as sementes da esperança?
A figura de Ester aponta-nos para Maria, pois aquela era pobre, órfã e estrangeira, e viu-se elevada à linhagem de rainha. E Maria, a humilde jovem de Nazaré, torna-se esposa e colaboradora de Deus em favor da humanidade. Como Ester, também Maria foi elevada à condição de rainha, pelo facto de ter dado à luz o Messias, rei de Israel. Na grande pintura da Basílica de Maria Auxiliadora, D. Bosco quis que Ela fosse representada precisamente assim: como a Rainha Mãe, que aconchega nos braços o Rei do universo e intercede noite e dia por nós, juntamente com os anjos e os santos.
Resumindo: Maria, que meditava em seu coração, tudo o que acontecia com Jesus e que sabia dirigir-se a Ele – Oração – pedindo a sua intervenção – “Não têm vinho!” antes de agir, – só depois foi ter com os criados em Caná para lhes dizer: Fazei o que Ele vos disser, é esta Maria, que é para nós o modelo definitivo da Oração de Cristo ao Pai, que antes de tomar decisões importantes, com Ele passava longo tempo.
Ou seja, assim, como fez naquele contexto Ester e como fez sempre Maria, todos nós, mulheres ou homens feitos, crianças ou jovens, somos chamados a implorar confiadamente das mãos de Deus tudo aquilo que entendemos por bem colaborar para que aconteça – em nós ou nos outros – na certeza de que a nossa ação em vista desse objetivo é simplesmente o invólucro do grande presente que Deus nos quer conceder.
E o que o Espírito de Deus deseja fazer acontecer, fá-lo-á, mas sempre vai pedir a colaboração de mulheres e de homens. Que todos e todas estejamos atentos às moções do Espírito Santo, para que a vontade de Deus, nossa felicidade, seja feita.
Ir. Mª Fernanda Rosa Afonso | FMA