Dom Bosco teve uma experiência privilegiada da presença de Maria como Mãe e Mestra, experiência essa que comunicou e deixou como herança aos seus filhos e a toda a família espiritual. Ele tinha plena consciência do quanto a Auxiliadora o inspirara e guiara na sua vocação e na sua missão, de como o protegera nos perigos e nas dificuldades, de como fora não apenas o seu auxílio, mas também a protagonista de sua obra educativa. Dom Bosco interpreta a realeza de Maria não no sentido estático, mas dinâmico, não só como sinal de dignidade, mas como energia de caridade: “adstare”, estar sentada, mas literalmente estar próxima a alguém para assisti-lo… Maria ajuda-nos na vida, na morte e depois da morte! Não é por acaso que o nosso santo fará da “assistência” uma das fortalezas irrenunciáveis da presença educativa entre os rapazes. Maria, também contemplada como Rainha, nunca deixa, no entanto, de ser Mãe: é Mãe como o é Rainha, daí, com um poder de intercessão junto ao Rei e de intervenção pessoal segundo a vontade do Rei, que é inigualável.
O realismo da presença materna de Maria exprime-se em Dom Bosco como familiaridade, indelével hereditariedade espiritual e traço característico da espiritualidade salesiana. Familiaridade significa que nas Casas Salesianas e nas famílias nas quais se vive o espírito de Dom Bosco, as coisas de Deus não são estranhas, mas familiares, não são difíceis, mas fáceis, não acentuam a linha exigente, mas a linha amável, tudo isto graças ao poder materno de Maria: com Dom Bosco, não há necessidade de atravessar nenhuma ponte, porque no ambiente familiar Salesiano, Deus, Jesus e a Santíssima Virgem estão ao alcance de todos. O ambiente familiar Salesiano é o que é porque não possui o humano como limite, mas compreende o sobrenatural; porque “familiarizou” toda a religião cristã, moral e sacramental; porque toda a realidade sobrenatural é materna por Maria Santíssima Auxiliadora.
Hoje é preciso reconhecer que a dimensão Mariana do Carisma Salesiano segue relançada com grande força. Numa cultura que nos tem ensinado a pensar e a agir como se Deus não existisse, a supervalorizar o livre pensamento, esquecendo-nos da primazia da graça, a fazer cálculos baseados nos nossos recursos mais do que confiar na Providência, a projetar as obras no lugar de Deus, mais do que executar aquelas projetadas por Ele, a confiança em Maria e em seu coração materno é o antídoto mais seguro para relançar toda a obra espiritual, pastoral e educativa, passando do critério da eficiência terrena àquele da eficácia evangélica. Pe. Viganò, refletindo sobre a dimensão mariana da vocação Salesiana e reconvocando à experiência de Dom Bosco que, graças à Auxiliadora, viu o que são os milagres, afirma com clareza que é preciso aprofundar o realismo da maternidade espiritual de Maria… Não haverá reformulação e recomeço para nós, sem a Auxiliadora; mas ao contrário, com a sua materna ajuda, veremos crescer os efeitos da revitalização, também “miraculosamente”!
Pedro Miguel Pinheiro Ricardo
Presidente Nacional ADMA